OPINIÃO - A Alegoria dos nascituros e a literatura do depois de agora

OPINIÃO - A Alegoria dos nascituros e a literatura do depois de agora

Data de Publicação: 27 de março de 2025 10:57:00 A alegoria dos dois bebês no útero materno provoca uma reflexão sobre a vida após o nascimento e a morte. Em um debate entre gêmeos, um é cético, enquanto o outro acredita em uma existência além da matéria. Nessa narrativa, Abílio Wolney convida à contemplação sobre fé e as limitações da percepção humana, sugerindo que a verdadeira sabedoria está na busca pela compreensão, e não em crenças rígidas.

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A alegoria dos dois bebês no útero materno provoca uma reflexão sobre a vida após o nascimento e a morte. Em um debate entre gêmeos, um é cético, enquanto o outro acredita em uma existência além da matéria. Nessa narrativa, Abílio Wolney convida à contemplação sobre fé e as limitações da percepção humana, sugerindo que a verdadeira sabedoria está na busca pela compreensão, e não em crenças rígidas.

Por Abilio Wolney*

Nos últimos tempos, uma história tem circulado amplamente na internet, em plataformas e redes sociais. Trata-se da alegoria dos dois bebês no útero materno que discutem a possibilidade de uma vida além do nascimento. A parábola, de origem incerta, provoca reflexões sobre temas como fé, espiritualidade e a percepção da realidade.

A história apresenta dois gêmeos conversando dentro do ventre materno:

Imagem ilustrativa: META IA, por sugestão da redação deste site

— Você acredita em vida após o parto?

— Claro que não! O parto é o fim de tudo. Depois que sairmos daqui, não há mais nada, só escuridão e esquecimento.

— Eu acho que há algo mais. Talvez estejamos nos preparando para algo muito maior, para um lugar onde poderemos ver com os nossos próprios olhos e respirar por nós mesmos.

— Isso é absurdo! Nunca vimos nada além deste lugar. Como pode haver algo além dele? E mais, se houvesse vida depois do parto, alguém que partiu teria voltado para nos contar.

A metáfora dos gêmeos reflete um questionamento filosófico profundo sobre a existência e o desconhecido. A ideia central é um paralelo com a crença na vida após a morte. Assim como o bebê cético se recusa a acreditar em uma realidade que ele ainda não experimentou, muitas pessoas rejeitam a ideia de uma existência além desta vida, argumentando que não há evidências concretas.

Por outro lado, o bebê que crê no “mundo pós-parto” representa aqueles que acreditam que há algo além do que podemos perceber com nossos sentidos. Assim como um bebê no útero não pode conceber plenamente a luz, o ar ou o rosto da mãe, a vida espiritual poderia estar além de nossa compreensão terrena.

"A vida não cessa; ela se transforma na eternidade das possibilidades."

Essa narrativa pode ser interpretada sob diversas perspectivas: religiosa, cética e existencialista. Muitas tradições espirituais sustentam que a vida terrena é uma preparação para outra existência. Assim como o útero é um espaço transitório, o mundo material poderia ser um estágio preparatório para algo maior. Do ponto de vista materialista, a analogia não prova nada além da capacidade humana de criar metáforas para confortar a incerteza. A história também pode ser vista como uma reflexão sobre o medo do desconhecido e o limite da percepção humana.

No entanto, há um aspecto adicional a ser considerado: a fé não pode ser um limite para o pensamento, mas sim um convite à transformação. Fé que se recusa a questionar-se torna-se dogma, e dogma conduz ao fanatismo. Alguém já disse que “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da humanidade”. Assim, enquanto alguns negam o desconhecido por falta de provas, outros se prendem a crenças sem examiná-las criticamente. A verdadeira sabedoria não está apenas em acreditar ou duvidar, mas em buscar compreender. Transformar-se é um processo de ampliação da consciência, enquanto fanatizar-se é fechar-se para qualquer nova possibilidade.

Se Baruch Spinoza (1632-1677) analisasse essa alegoria nos dias de hoje, ele provavelmente interpretaria a narrativa dos gêmeos dentro de sua concepção de Deus como substância única e infinita (Deus sive Natura). Para Spinoza, tudo o que existe é uma manifestação da natureza divina, e não há um além absoluto, mas uma continuidade da existência dentro das leis naturais. Assim, o nascimento não seria uma transição para um outro mundo desconhecido, mas apenas uma nova forma de expressão da mesma realidade essencial. Ele poderia dizer que os gêmeos, ao nascerem, não deixam de existir, mas continuam sendo modos da substância divina, agora experienciando a realidade sob um novo atributo. Sua visão rejeitaria tanto a negação absoluta da existência pós-útero quanto a crença cega em uma vida separada da natureza, enfatizando que toda mudança é uma reorganização dentro da ordem necessária do universo.

A parábola dos gêmeos no útero não busca impor uma verdade absoluta, mas provocar uma reflexão sobre como encaramos a existência e o desconhecido. Assim como um bebê pode duvidar da existência da mãe que o nutre, nós também podemos questionar aquilo que está além do nosso entendimento imediato. A verdadeira questão não é apenas se há algo após esta vida, mas se estamos dispostos a aceitar a possibilidade de que há realidades que ainda não compreendemos.

Interrogado no Pretório de Pôncio Pilatos, ele disse: Por agora, o meu reino não é deste mundo, como quisesse dizer, será. Até porque há muita vida no útero enorme do universo possível de 3 trilhões de galáxias nas objetivas dos telescópios em órbita da Terra.

E a vida não cessa, diz André Luiz: A vida é fonte eterna e a morte é jogo escuro das ilusões.

 

 

* É natural de Dianópolis (TO),

Juiz de Direito em Goiânia,
acadêmico de Jornalismo,
autor de 15 livros e membro  
da Academia Goiana de Letras.

Alegoria, Vida após a morte, Fé, Espiritualidade, Existencialismo

 

 

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