Um corpo estendido no chão
Um corpo estendido no chão
Data de Publicação: 21 de dezembro de 2024 19:27:00 Nesta crônica, Antônio Oliveira compartilha sua sensibilidade diante de tragédias, refletindo sobre experiências marcantes que o abalaram emocionalmente. Ele descreve momentos de desespero e a luta interna entre o medo e a responsabilidade de ajudar em situações de emergência. Com um olhar atento às consequências da irresponsabilidade no trânsito, a narrativa evoca uma reflexão sobre a fragilidade da vida e a importância da empatia e da solidariedade. (Amapoula Valence)
Nesta crônica, Antônio Oliveira compartilha sua sensibilidade diante de tragédias, refletindo sobre experiências marcantes que o abalaram emocionalmente. Ele descreve momentos de desespero e a luta interna entre o medo e a responsabilidade de ajudar em situações de emergência. Com um olhar atento às consequências da irresponsabilidade no trânsito, a narrativa evoca uma reflexão sobre a fragilidade da vida e a importância da empatia e da solidariedade. (Amapoula Valence)
Por Antônio Oliveira
Sou muito sensível a situações que envolvem desastres com pessoas, principalmente quando há feridas expostas e sangue. No trânsito das cidades e nas estradas, chego a desviar caminhos para evitar cenas assim. Quando as vejo, meu emocional fica abalado por muito tempo. Já presenciei algumas, inevitáveis, que me marcaram e das quais não gosto de lembrar. Uma delas ocorreu em Goiânia (GO), quando eu era office-boy em uma papelaria, cujo patrão guardo na memória com carinho. Mas intuo que, se algum dia me deparar com cenas desse tipo, precisarei ter coragem para ajudar a resgatar vidas.
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Foto, meramente ilustrativa: Portal do Trânsito
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Foi numa das minhas muitas viagens entre Goiânia e Barreiras, no oeste da Bahia. Em uma madrugada, antes de chegar à divisa entre os estados, fui acordado por uma convocação do motorista: “Há um ônibus, logo à frente, que caiu na ribanceira, e precisamos de uma pessoa magra para descer e entrar entre as ferragens.” O meu perfil físico se encaixava, e entre o receio e o dever de salvar, desci a ribanceira e resgatei um senhor.
Há cerca de três meses, em Palmas, capital do Tocantins, onde moro, uma cena trágica se desenrolou diante de mim, abalando meu emocional. Era por volta do meio-dia, quando saí da Escola do Sesc, onde fui buscar minha neta, Ana Clara. Eu seguia pela LO (uma das avenidas no sentido leste-oeste, que caracteriza a arquitetura urbana desta cidade) e, ao chegar ao cruzamento com a Avenida Teotônio Segurado, a principal da cidade, parei o carro diante da placa “Pare”. Nesse momento, um automóvel passou por mim a mais de 100 km/h e colidiu violentamente com uma motocicleta, jogando o condutor para o alto. A cena do corpo caindo ao chão, ainda não sei se vivo ou morto, me abalou profundamente.
Estacionei o carro bem mais abaixo para não expor minha neta à tragédia, pedindo-a que não descesse, e fui em socorro do motoqueiro. Ele estava inerte abraçado a uma raiz de árvore, aparentemente sem respirar. O motorista do carro infrator, ao telefone, disse que não viu o motoqueiro. Respondi, indignado: “Claro, você cruzou a avenida sem obedecer ao sinal e em alta velocidade. Olha o que você fez, seu irresponsável!” Olhando para a placa do carro dele, percebi que ele, talvez, só parou poque seu veículo dera pane. Havia uma poça de óleo de motor.
Voltei a olhar para o corpo, que deu, talvez, um último suspiro, e chorei. Chorei por ver que, por irresponsabilidade, alguém poderia ter perdido a vida. Chorei por imaginar que ele poderia ser um pai de família indo almoçar com a mulher amada e os filhos, ou alguém que sonhava e preparava em formar uma nova família, mas teve a vida ceifada pela falta de disciplina alheia em sociedade.
Logo, mais pessoas chegaram em socorro ao moço. Alguém ligou para a Polícia, outra para o SAMU. Não queria que minha neta estranhasse minha demora, descesse do carro e visse em minha direção, presenciando triste cena, então pedi que as testemunhas informassem à Polícia que o motorista teve culpa no acidente. Me identifiquei e me coloquei à disposição como testemunha.
Voltei para casa abalado, mal dormi. No dia seguinte, procurei notícias sobre o trágico acidente nos sites de notícias da cidade e no obituário. Se o motoqueiro morreu, gostaria de velar seu corpo e dar meu adeus a quem conheci estendido no chão, vítima da irresponsabilidade. Se sobreviveu, queria visitá-lo, ser solidário a ele, à sua companheira e aos filhos.
Passados mais de três meses, ainda não tenho notícias daquele cidadão, cujo corpo estendido no chão me marcou profundamente.
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