Poeta Carlos Abdon Quirino (Foto: Acervo pessoal)

Por Antônio Oliveira

O agronegócio não é, de modo geral, afeito à poesia, e a poesia, por sua vez, não é, em grande medida, afeita ao agronegócio. "Ninguém come soja" é o tipo de conversa frequentemente ouvida entre poetas e outros "fazedores" de cultura. Nos dias atuais, para muitos do Agro ou da direita radical, a poesia e outras expressões culturais são vistas como "coisas da esquerda, do comunismo". Salve, por favor, as exceções.

No entanto, no oeste da Bahia, mais precisamente no coração do Cerrado, onde predominam os megaprojetos agropecuários, o poeta Carlos Abdon Quirino quebra essas barreiras entre o capital agrícola e a literatura poética. Ele produziu um livro de poesias inspiradas pela realidade da fazenda onde trabalha, uma produtora de bananas que faz parte de um grupo empresarial com raízes nos grãos e fibras. Abdon é natural de Manga, em Minas Gerais, e reside em Barreiras desde 1976. Se considera baiano, digamos assim, pelo que conheço dele.

Em uma conversa descontraída comigo, Carlos Abdon Quirino, compartilhou suas perspectivas sobre a relação entre o agronegócio e a poesia. Ao responder a indagações sobre as divisões políticas no Brasil, ele mostrou-se reflexivo, evitando categorizações simples entre direita e esquerda.

- Antônio,  meu amigo! Olha, eu não vou entrar no debate da esquerda e da direita. Penso como você: há coisas boas e ruins de ambos os lados. Eu não me declaro de nenhum, mas reconheço que tenho pontos de discordância com a esquerda. Evito esse tipo de discussão, pois é polêmico e difícil encontrar a verdade, já que cada um defende sua filosofia e ideais.

Carlos explicou que, ao escrever seu livro de poesias, refletiu muito sobre questões políticas e sociais. Ele destacou seu envolvimento no projeto da fazenda onde trabalha, que se destaca por suas práticas sustentáveis.

- Eles (proprietários e colaboradores) seguem todas as regras de proteção à natureza. A fazenda é 99% biológica, sem produtos químicos. Antes, a terra estava morta, sem vida. Hoje, você vira a terra e vê formigas e minhocas.

A motivação para o livro veio da sua vivência na fazenda, onde ele acredita que é possível produzir de forma responsável.

- Fiquei pensando que podia dar certo, mesmo com quem pode torcer o nariz para isso. Similar ao que você me disse, precisamos de alimento, de produção e de trabalho. Meu objetivo é mostrar que há quem faça diferente.

Assim, Carlos Abdon Quirino se posiciona como uma voz de esperança na interseção entre a poesia e o agronegócio, enfatizando que é possível unir sustentabilidade e produção.

"Quando a poesia encontra a terra, nascem novas histórias de esperança e transformação."

A obra, inspirada na agricultura sustentável (Foto: Divulgação)

- A fazenda onde trabalho faz diferente, e por isso quis compartilhar isso no meu livro.

Carlos Abdon Quirino, em nossa rica troca de ideias, continuou a detalhar suas motivações e o conteúdo de seu novo livro. Ele compartilhou que enviou um esboço da obra à professora Marildes (Guedes, presidente da Academia Barreirense de Letra - ABL), para que ela pudesse ler e oferecer feedback.

- Eu tenho depoimentos de pessoas da fazenda, de um grupo de estudo que criei lá, com o intuito de formar líderes no campo -  explicou.

- Esses depoimentos estão no livro, e por isso gostaria muito que você viesse ao lançamento, para acompanhar tudo de perto. Sei que você, como jornalista do Agronegócio, também vai apreciar – disse ele

Abdon relatou que a professora Marildes destacou, em seu texto, a importância de não condenar o que não se conhece, reforçando que a fazenda que ele representa é um modelo a ser seguido, de acordo com a leitura dela.

- Ela, após conhecer os relatos, se sentiu encorajada a afirmar que aquela fazenda é realmente uma referência.

E Abdon não parou por aí; mencionou também um texto do Jean Lucas Vinhas, (escritor, maçom e demolay e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente),  que, apesar de suas inclinações políticas à esquerda, reconheceu as qualidades do agronegócio e do trabalho desenvolvido na fazenda.

- Estou tranquilo quanto a isso. No preâmbulo do livro, deixo claro que não quero gerar discussão política. Meu objetivo é mostrar que existem fazendas que fazem a diferença, e esta onde eu trabalho é um exemplo de excelência - enfatizou Quirino.

Ele abordou temas como produtividade, cuidado com a natureza e gestão humanizada que permeiam a realidade de sua fazenda.

Além disso, o poeta revelou que, embora seu livro seja predominantemente de poesia, ele tem uma pegada didática.

- Falo sobre o produtor rural, o investidor, o trabalhador, e até sobre papéis como coordenador e gestor. Menciono lugares como São José do Rio Grande e Riachão das Neves (no Cerrado baiano), levando visibilidade a essas comunidades e suas realidades.

Para Quirino, o intuito é claro: dar voz e espaço às histórias e experiências vividas.

- Espero que as pessoas compreendam essa abordagem, especialmente aquelas que têm visões radicais. Também há muitos que pensam como você e como eu, e o que é positivo precisa ser reconhecido. Não podemos generalizar, pois a realidade é complexa e diversa.

Ao final da nossa conversa, durante o Festival Literário Intercultural da Bacia do Rio Grande (FRIBARG), ocorrido durante os dias 24 e 25 próximos passados, ele reafirmou sua crença na importância de destacar o que há de bom e de inovador na agricultura, apontando para um futuro em que a produção rural e a preservação do meio ambiente possam caminhar juntos.

- Esse é o meu propósito, e estou animado para compartilhar isso com o mundo – concluiu meu amigo desde os tempos dos primeiros colonos desbravando o Cerrado baiano;

Resenha

“Um Pomar de Poesias” é uma obra que, por meio de versos frutíferos, apresenta uma metáfora rica e envolvente sobre o cultivo de bananas, desde o plantio até a colheita. Situado na Fazenda Pomar do Nordeste, em Riachão das Neves, na Bahia, o livro também revela o contexto corporativo em que a fazenda se insere, além das nuances de uma gestão humanizada que valoriza suas raízes.

A Fazenda, que se constrói com o auxílio das comunidades locais e em harmonia com a simplicidade da natureza, busca continuamente uma produtividade equilibrada. Ali, a tecnologia e o manejo biológico se entrelaçam, traçando um caminho para o bem-estar e o crescimento sustentável.

Com uma sensibilidade aguçada, os poemas convidam o leitor a se aprofundar na terra fértil da imaginação, abordando temas como liderança, trabalho em equipe, e a delicada relação entre produtividade e qualidade de vida. A vivência no interior e as particularidades de seus habitantes são celebradas, ao lado das singularidades da natureza.

Poeta Carlos Abdon Quirino (Foto: Acervo pessoal)

Assim como uma terra bem cuidada, a poesia e o sucesso prosperam onde há conexão genuína. “Um Pomar de Poesias” promete ser uma leitura envolvente e inspiradora para aqueles que buscam reflexões sobre gestão, vida e a essência da natureza.

Venda antecipada

O livro será lançado no próximo dia 17 de maio mas já pode ser adquirido conforme orientações do autor.

Ao adquirir um ou mais exemplares, o comprador estará reservando-os para retirada diretamente no evento de lançamento. Caso não possa comparecer, os livros serão entregues pessoalmente após a ocasião.

Para aqueles que não residem na mesma cidade, o envio dos exemplares será realizado pelos Correios após o dia 17/05.

Para garantir um exemplar, basta confirmar o pagamento de R$ 45,90 através da Chave Pix Celular: 77981075778. Após efetuar o pagamento, é necessário enviar o comprovante junto com o nome.

Se o comprador não estiver na mesma cidade, é fundamental fornecer o nome completo e o endereço completo para que o envio pelo Correio possa ser realizado com sucesso.

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